quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Quando a mídia não puder mais esconder

Escrevo esse texto especialmente para as pessoas que buscam estar bem informadas acompanhando a mídia tradicional. Dou certo destaque para aqueles que apostam nas informações do Jornal Nacional, Veja, Folha e Estadão.

Quando a mídia não puder mais esconder

Lula aguarda o dia 1º de janeiro de 2011 com ansiedade e alegria, pois terá a oportunidade de dizer tudo aquilo que o cargo lhe proíbe (veja o vídeo). Por outro lado, Serra deve se angustiar com a aproximação do dia 1º de novembro próximo. A falta total de escrúpulos que se observa nessa campanha que entrará para história da democracia e do jornalismo, demonstra que Serra não tem mais nada a perder. Somente a Presidência da República lhe blindará do que está por vir.

Quem milita a blogosfera progressista assiste a mídia hegêmonica publicar com dias ou meses de atraso, aquilo que já apuramos, denunciamos, publicamos. Estamos melhor informados que a grande mídia? Claro que não. Mas ela determina o que a população deve saber ou não. Enquanto isso, a maioria da população, mesmo a que pensa estar bem informada, se confunde com as informações que recebe, seja da imprensa, ou de e-mails e telefonemas sujos.

As pessoas perguntaram-se: quem é Paulo Preto? Diferentemente de Serra, quase ninguém sabia. Desde agosto falamos pela blogosfera, de Paulo Preto, do sumiço de 4 milhões de caixa 2 reclamado por tucanos, do fato de ser um dos principais responsáveis pelas obras do Rodoanel (se duvida, leia aqui). Saiu na Istoé. Mas não valeu um Jornal Nacional, repercussões pela Folha, Estadão e O Globo durante semana. Quando Dilma colocou Paulo Preto no debate, a imprensa não teve como fugir do assunto. Viram Serra dizer que não sabia. Viram Paulo Preto ameaçá-lo pelo jornal. Viram Serra recobrar a memória e defendê-lo como foi pedido pelo ex-arrecadador de campanha e ex-homem de confiança do ex-Governador de São Paulo. A reportagem da Record detalhou melhor o que a Globo buscou dar menor destaque (assista).

As pessoas viram Serra acusar Dilma de ser a favor do aborto, aproveitando-se da boataria eletrônica e da panfletagem religiosa que sua campanha encomendou. Logo no início da campanha de 2º turno, desmascaramos o “Serra Sou Contra o Aborto” (veja você mesmo). Ele continuou fazendo pregação, entrando em igrejas, eventos religiosos, sendo expulso (ouça), distribuindo Santinhos com mensagens de Jesus (aqui). Forçou a barra. Piorou. Mônica Serra, que disse que Dilma era a favor de matar criancinhas, foi desmascarada por ex-alunas da UNICAMP que contaram e reafirmaram a confissão de Mônica sobre o aborto que fizera nos tempos de Chile. Soubemos dias antes de sair na imprensa. Optamos por não publicar por temer ser armação tucana (veja). Quando, no sábado, o PT encontrou a gráfica tucana com mais de 1 milhão de panfletos criminosos, nós já tínhamos divulgado antes da ordem judicial e da Polícia Federal chegar para apreender o material. Também já tínhamos descoberto as ligações com a monarquia e com a extrema direita que tinha o religioso que encomendou e pagou os panfletos solicitados pelo Bispo de Guarulhos (confira). Foi a rede que descobriu que a dona da gráfica era filiada ao PSDB e irmã de coordenador de campanha de Serra. Dois dias depois saiu no Jornal da Record (assista).

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Todos ouviram, desde maio, Serra falar de dossiê e quebra de sigilo para tudo quanto é canto. Jornal, rádio e tv. Os de fora da blogosfera nunca ouviram falar de Amaury Ribeiro Jr. Na grande mídia ninguém citou Aécio neste tema. Também, além de Eduardo Jorge e da filha de Serra, não se falou sobre quem eram, dentre o alto tucanato, as pobres supostas vítimas da quebra de sigilo. Em junho, eu ainda mais novato na blogosfera, publiquei as relações de Verônica Serra com a irmã de Daniel Dantas (o banqueiro preso do Oportunity), fato nada novo na rede (leia aqui). Mencionei na ocasião, com base nas informaçõe dos blogs dos jornalistas que eu acompanho que o novo dossiê que Serra dizia vir do PT, havia sido produzido por um jornalista ligado ao PSDB tucano para municiar Aécio contra as táticas de Serra (dossiês contra o adversário mineiro no partido). Luis Nassif foi quem apurou a história e facilmente a explicou (confira). Desde 2008, diante da disputa no PSDB, pela candidatura à Presidência, dizia-se no partido, que Serra havia preparado dossiê sobre Aécio. Os mineiros precavidos, recorreram ao jornal Estado de Minas para juntar munição contra Serra. Foi recrutado seu jornalista Amaury Ribeiro Jr.  Quase um ano de trabalho atrás de pistas. Junou-se muito material que ficou sem uso após o fim da guerra interna do PSDB. Amaury decidiu com o resultado de seu trabalho, escrever um livro. Quando se aproximou de Lanzetta, cuja empresa era responsável por contratar pessoal para a Campanha de Dilma. Serra desesperou-se ao saber, e saiu usando seus canais para esvaziar qualquer material que saísse da caneta de Amaury.
Mas a grande mídia escondeu Amaury e a filha de Serra naquele momento. Preferiu reeditar o que seria uma nova versão do dossiê dos aloprados. Um dia depois do artigo de Nassif, a Folha corrigiu a história aproximando-se da versão publicada na internet (confira aqui e aqui).

imageNo dia 07 de junho Paulo Henrique Amorim lembrava que o dossiê, na verdade, o livro, era sobre a ligação de Dantas (o banqueiro) “com as privatizações do governo FHC/Serra. O meio é a sociedade da filha de Serra com a irmã de Dantas. O fim é a ligação Dantas e Serra.” Mas a Folha voltou a atacar dando voz para os tucanos acusarem o PT de quebrar o sigilo de Eduardo Jorge Vice Presidente do PSDB. No dia seguinte, o PT entrou  na justiça contra Serra pela acusação falsa de quebra de sigilo e na Polícia Federal para investigar as informações prestadas pela Folha (como publicamos). O próprio Amaury se ofereceu para depor. No final de agosto, a PF já tinha revelado que alguns dados de tucanos tinham sido acessados. Entre os que tiveram dados acessados estavam artistas e até o filho de Lula. A mídia centrava em Eduardo Jorge e falava de membros do alto tucanato, sem dar muita divulgação aos nomes. Com informações da própria imprensa realizei uma série sobre os dossiês das supostas vítimas de dossiês, do Eduardo Jorge aos gran-tucanos que a mídia pouca citava: Luiz Carlos Mendonça de Barros, Ricardo Sérgio de Oliveira e Gregório Marin Preciado. Todos são ligados a Serra, de parente a coordenador de campanha, todos estavam ligados a escândalos nas privatizações (divulgados por revistas da época) no governo FHC e a Daniel Dantas (confira você mesmo). Outra coincidência, eram nomes centrais do livro de Amaury, “Nos porões da privataria”, cujo prefácio foi publicado por Paulo Henrique Amorim desde 4 de junho e que reproduzi aqui. Em setembro, o PT pediu que a Polícia Federal ouvisse o depoimento de Amaury. Serra afinou e começa a mudar de assunto. Aqui foi notícia. No início de setembro, Luis Nassif faz uma fantástica cronologia que explica os ataques de Serra contra Aécio. Lembra artigo do Estadão, uma mensagem de Serra para Aécio não enfrentá-lo. O artigo de 2008 que se intitulava “ pará, governador!” e questionava as aspirações políticas do governador mineiro, fez o líder entender que a turma paulista era da pesada e não estava para brincadeiras. A briga interna levou Aécio a abrir mão, mas deixou pronto um farto material contra Serra. Já na campanha, há nova tentativa frustrada de tucanos reeditarem os escândalo dos aloprados. Esse resumo de Nassif que se pode ler aqui conta toda a história dos dossiês, de Aécio e da guerra suja de Serra, que no PSDB nunca foi novidade, o sabem Tasso e Paulo Renato.

Tudo isso que contei e que estava aqui na internet esse tempo todo começam a tomar forma na mídia tradicional. Eles não sabiam antes? Naturalmente que sim. Mas não queriam que você soubesse. Mas por que resolveram tratar disso agora, neste dia 20 de outubro? Como revelou Nassif  pela manhã (aqui), a Polícia Federal, após concluir o inquérito, decidiu divulgá-lo somente após as eleições, pois sabe que é uma bomba contra Serra e não quer que seja atribuído a ela a acusação de estar a serviço de interesses eleitorais. Eduardo Jorge, ao contrário, por meio de sua advogada, preferiu mandar para a Folha os resultados do inquérito da Polícia Federal como tentativa de antídoto. A Folha de São Paulo publicou a matéria com uma manchete preparada para a propaganda de Serra: “PF liga quebra de sigilo fiscal de tucano à pré-campanha de Dilma”. Como bem desmistificou Nassif, a matéria do jornal paulista dá enfase à aproximação posterior, para tentar ocultar por mais um tempo a ligação do jornalista com o Aécio Neves e a guerra tucana de dossiês. Foi a tentativa da mídia de uma forma geral (aqui e aqui). Mas aos poucos, o inevitável acontece, a mídia está se aproximando de Aécio como publicou Luiz Carlos Azenha aqui. O Estadão foi perguntar ao próprio que desmente tudo o que disse o jornalista que trabalhava para o jornal mineiro quando os sigilos foram quebrados (aqui). Como previu Nassif parece mais um tiro no pé, ainda mais porque a PF iria desmentir e informar a verdade, a relação entre o jornalista e Aécio contra Serra. O que disse Nassif pela manhã, aconteceu aconteceu à tarde e foi publicado na íntegra por Paulo Henrique Amorim. Como o que disse a PF, não teve o destaque da mídia, reforço alguns pontos abaixo, apesar de que, mais cedo ou mais tarde, o público vai ser informado:
“a quebra de sigilo ocorreu entre setembro e outubro de 2009 e envolveu servidores da Receita Federal, despachantes e clientes que encomendavam os dados, entre eles um jornalista;”
“o jornalista utilizou os serviços de levantamento de informações de empresas e pessoas físicas desde o final de 2008 no interesse de investigações próprias;”
Os dados violados foram utilizados para a confecção de relatórios, mas não foi comprovada sua utilização em campanha política;”
A Polícia Federal refuta qualquer tentativa de utilização de seu trabalho para fins eleitoreiros com distorção de fatos ou atribuindo a esta instituição conclusões que não correspondam aos dados da investigação.”

Aos poucos todos terão acesso pela tv, rádio e imprensa daquilo que há meses sabemos e divulgamos pela internet.Se você ainda tem duvida, espere e verá se confirmando cada informação. Não se trata de profecia. As informações estão disponíveis na internet como resultado de bom jornalismo, mas que não atende aos grandes interesses. Esse trabalho associado ao poder de rede que a internet tem está rompendo aos poucos uma barreira antes intransponível. Uma dos maiores pesadelos da decadente velha mídia. Por fim, os dados que antes estavam na mão de um jornalista que esquadrinhou as chamadas privatarias foram parar na Polícia Federal. Por isso, voltando ao início desse texto, você entende agora o medo de Serra pelo que virá após 31 de outubro se não for ele o eleito? Por isso, o vale-tudo irá durar até o dia 31: leia Após ser atigido por bolinha de papel, Serra passa bem.

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